segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pessoa

Coisa que acaba. Troço que tem fim. Sujeito. Que não dura, que se extingue. Míngua. Negócio finito, que finda. Festa que termina. Coisa que passa, se apaga, fina. Pessoa. Troço que definha. Que será cinzas. Que o chão devora. Fogo que o vento assopra. Bolha que estoura. Sujeito. Líquido que evapora. Lixo que se joga fora. Coisa que não sobra, soçobra, vai embora. Que nada fixa. A foto amarela o filme queima embolora a memória falha o papel se rasga se perde não se repete. Pessoa. Pedaço de perda. Coisa que cessa, fenece, apodrece. Fome que se sacia. Negócio que some, que se consome. Sujeito. Água que o sol seca, que a terra bebe. Algo que morre, falece, desaparece. Cara, bicho, objeto. Nome que se esquece.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

"Imagine que vou fazer uma longa viagem, sem saber quando volto, e você vai até a estação de trem para se despedir de mim. Se depois nos comunicarmos por carta ou telefone e nos lembrarmos da despedida, não estaremos falando da mesma coisa, mesmo que imaginemos que sim. A minha lembrança e a sua serão diferentes, isso quando não forem completamente opostas. Você se lembra de um homem que se afasta em um trem e que acena da janela. Mas eu me lembro de um homem imóvel em uma plataforma e de que ele ficava cada vez menor. É a única coisa que podemos compartilhar: a sensação do outro ficando menor. Trata-se de algo que encontra eco em nossas emoções. Quando nos distanciamos fisicamente de alguém sua presença no inconsciente se reduz progressivamente. Talvez, nesse sentido, o que acontece no nível óptico seja mera preparação para o que acontecerá na mente. Mas voltemos ao início: a experiência nunca pode ser compartilhada. Ela é servida sempre em frascos individuais".

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quase


Começo mais uma reflexão pós término de livro, que devo admitir, terminei com mais rapidez do que pensava. 26 horas depois e ele já está de volta ocupando um lugar especial em uma de minhas prateleiras.

John Green, Razel e Gus que me desculpem, mas Karen Harrington, Sarah e Atticus roubaram meu coração. Claros sinais de loucura se tornou meu novo livro favorito. Ele tem os motivos necessários para ter tomado esse lugar, apesar de achar que as outras pessoas não o considerarão tão bom.
Mais uma vez tento enrolar o máximo para dizer o que quero dizer, e dizer as coisas que tenho pensado desde que terminei esse livro (6 minutos atrás).
"Depois que algo muda na sua vida, é melhor esperar por mais mudanças. É como derrubar o primeiro dominó. As outras peças não podem fazer nada, só cair onde estão. Se você tiver sorte, não vai se importar com o jeito que elas caem".
Há 37 dias o primeiro dominó caiu. Eu o empurrei. Apesar de tudo, não me arrependo. Ter feito isso me deixou mais perto da pessoa que fui um dia, e me orgulhava de ser. Há 21 dias deixei que outra mudança ocorresse. Pela primeira vez em muitos meses segui o conselho de alguém e comecei a me permitir. E foi muito bom. Ainda está sendo.
Tive tanto medo de perder as pessoas que fui me sufocando aos poucos e tranquei tanto, por tanto tempo, que precisei abrir as narinas e os pulmões e soltar tudo isso. E pegar ar puro, ar novo, ar que me traga energia. 
Há 9 dias outra peça de dominó caiu. Essa, provavelmente, foi a que mais lamentei e a que menos compreendi. Não foi definitiva. Não está resolvida, e talvez permaneça. Ficarei extremamente feliz se ela permanecer, e mais ainda de for diferente e melhor do que a anterior.
Esse livro e as aventuras da personagem me fizeram pensar que tudo na minha vida fica no quase. Tudo. Absolutamente tudo. Eu quase passei na ufsc. Eu quase fiquei na udesc. Eu quase não fui para a Estácio. Eu quase não percebi as pessoas maravilhosas que tenho do meu lado. Gostaria de ter percebido antes. Gostaria que as pessoas tivessem percebido. 
É estranho descobrir, depois de tanto tempo, que uma das melhores coisas da sua vida, é, de fato, uma das melhores coisas da sua vida. E é triste ver que essa pessoa faz o que você fazia até pouco tempo: não se permite. 
Não se permite porque acha que não vai conseguir viver sem, porque acha que a dor é insuportável, porque acha que o coração vai ficar partido pra sempre e acha que nada pode ser melhor do que ficar ali e simplesmente ficar ali. Tudo passa. Curar não é diferente de passar. Mesmo que não cure, cicatriza, e quando isso acontece tem que deixar a cicatriz ali, intocada, porque se cutucar vai ser pior. Sempre é pior. Estou cicatrizando a minha, e deixar que isso aconteça não significa nunca mais lembrar.
Talvez eu esteja falando demais e as frases que digo não façam mais sentido. 
Não quero gritar aos quatro ventos que empurrei a primeira peça do dominó, que as outras estão caindo e que mudanças estão acontecendo, mas me sinto livre, e a sensação é ótima. 
Eu ainda não consegui o que quero, mas vou. Não vou desistir simplesmente porque as pessoas não conhecem a famosa hora de se permitir.
Estou me permitindo. E isso é ótimo, é animador, é contagiante. Sinto novamente a sensação de ser uma laranja inteira, e isso vai me manter encorajada a mostrar pra outra laranja que ela é quem me fará transbordar.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

"Escrevo porque ajuda na cicatrização"

Nunca fui mega fã de Beatles mas existem músicas e músicas deles, e vez ou outra acabo achando uma que se encaixa na minha situação.
O ritmo e a letra de Eleanor Rigby não sai de minha cabeça.
Sou uma pessoa absurdamente sentimental. E sensível. Tão sensível que se alguém fala que sou sensível eu já quase começo a chorar. E metade - ou mais - de mim odeia ser assim.
Sinto uma necessidade absurda de escrever sempre que algo me incomoda, e talvez criar esse blog tenha sido a melhor das ideias que vi terem (te amo Dani!). Sem contar nos meus cadernos, nas agendas, no arquivo do word no meu computador e no bloco de notas do meu celular. Só que escrever aqui é como se eu firmasse um pensamento, mesmo que nem tenha formado ou chegado perto disso.
A gente sempre chega num momento que "não sabe o que fazer", mas depois esse problema acaba e vai aparecendo e depois é resolvido e enfim, ciclo eterno de "não saber o que fazer". Acontece que dessa vez eu realmente não sei o que fazer. E depois de torrar todos os neurônios que tenho pensando, decidi esperar.
Simplesmente esperar.
Um amigo me apresentou o tio Tempo, e ele é precioso demais. Então eu decidi acreditar nele. E esperar. Vou simplesmente esperar. Não sei exatamente o quê, nem sei se isso virá até mim, nem sei quanto tempo demorará, mas decidi simplesmente esperar. E estou esperando. A gente sempre espera.
Até lá, até acontecer alguma coisa, até não sei, a única coisa que me resta fazer é juntar as dúvidas e tentar formar uma certeza.

domingo, 8 de junho de 2014

Eu sou uma fraude

No reflexo do vidro de um lugar qualquer me observo: eu sou uma fraude.
Não adianta pensar que eu gosto do meu estágio, estou fazendo o curso que sempre quis, tenho meus pais que apesar de não estarem sempre do meu lado nunca deixaram de me ajudar sempre que preciso. Não adianta pensar nos amigos que hoje sentem muito minha falta, nem lembrar daqueles que vão estar ali quando eu precisar de um ombro amigo. 
Acontece que eu nunca tenho um ombro amigo. 
Eu sou uma fraude porque sei muito bem fingir que tá tudo bem. Que não preciso de ninguém. Que não sinto o que eu sinto. 
Sou uma fraude por sempre tentar fazer do jeito certo e sempre me autossabotar. Uma fraude porque faço de tudo pra não perder as pessoas e quando menos espero elas escorrem pelos meus dedos que nem vento. Fraude por agir do jeito certo e me dar mal. Fraude por fazer do jeito errado, depois fazer do jeito certo e ainda sim continuar me dando mal. Fraude por deixar tomar conta da minha vida e do meu pensamento pessoas que eu nem sei a veracidade das palavras. Ou pessoas que não fariam por mim metade do que faria por elas. 
Uma fraude por acreditar que eu vou ser feliz mentindo pro meu reflexo sempre que o vejo em um vidro qualquer. Ser feliz mentindo pros outros, quando estou mentindo duas vezes pra mim mesma. Uma fraude por tentar me esforçar por coisas que valem a pena, e fracassar. Mas ter força e vontade de lutar por coisas que oscilam mais do que a bolsa de valores. 
Uma fraude por não admitir que penso o que penso. Fraude por ver pessoas fazendo papel de trouxa que não enxergam que fazem papel de trouxa. Fraude por insistir no erro. Sempre. 
Fraude por ter sido uma pessoa da qual já me orgulhei ser, e hoje peço todos os dias ao meu subconsciente para ser de novo. 
Sou uma fraude de um jeito que eu nem mesma consigo explicar o quanto. 
Mas afinal, quem sou eu? 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

"O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro,
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz."