quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Ser adulto é o chefão do vídeo game da vida

Ilustração: Carine Brancowitz

Quando eu era criança desejava com todas as forças que pudesse logo crescer. Parecia legal ser adulto, dono do próprio nariz, dirigir, ir aonde quiser, ter seu próprio dinheiro. Aos poucos a gente aprende que tudo, na verdade, é uma questão de querer o depois. A gente tá sempre querendo o depois pra não lidar com as situações.
Ser adulto é muito mais complexo que simplesmente poder morar sozinho ou ir pra balada no meio da semana. Ser adulto não é só assistir o Jornal Nacional porque vai passar uma matéria bonitinha. Ser adulto é ler tudo sobre tudo pra não se sentir em outro mundo. E, às vezes, parece ser melhor viver em outro mundo do que encarar a realidade desse lado aqui. Ser adulto exige responsabilidades que a gente acha que só chegam lá na casa dos 40. Mas, antes de ser adulto, é preciso escolher. E na vida tudo é, definitivamente, uma questão disso. A gente precisa escolher com 17 anos o que deseja fazer praticamente pro resto da vida. E aí tem que passar por todo aquele processo psicológico e até trauma emocional de vestibular. Não satisfeitos, precisamos encarar o emprego e as escolhas. O disco vira quando a gente volta a debater sobre o sonho x estabilidade. A coisa fica mais difícil quando chegar uma conta pra pagar no final do mês. E o sonho acaba ficando mais longe dependendo das pedras que a gente decide - e não decide - carregar ao longo da vida.
Aqui, com 20 anos, eu preciso decidir entre um estágio num lugar que sempre quis trabalhar e um contrato com aumento na empresa que já estou. Eu preciso decidir se dá pra abrir mão do dinheiro pra comer em um lugar legal e a grana que sobra para os planos futuros. Eu preciso pensar no que quero pro futuro e em como eu ajudo no fim do mês pra pagar a mensalidade da faculdade. Eu preciso decidir, em menos de 24 horas, coisas que só imaginava precisar lidar lá pelos 30.
E então eu percebi que ser adulto é relativo e nem é tão legal assim. Percebi que a coisa ia ser fácil mesmo se as dúvidas continuassem apenas na sexta-feira da creche, quando precisava escolher o que levar de brinquedo no dia do brinquedo. Isso porque eu ainda tinha o luxo de escolher, tinha opções a minha volta, tinha possibilidades. Hoje, as possibilidades ficam mais restritas e ainda é preciso agradecer porque elas existem, porque temos escolha, porque temos opção. 
Com um pouco de sofrimento, eu tomei uma decisão, porque o mundo de adultos é feito disso: decisões. Tem que decidir se é mais prudente gastar o dinheiro indo pintar o cabelo no salão ou em uma festa legal. Tem que decidir se é melhor economizar pro futuro porque vivemos tempo de crises ou se tem que meter o louco e viver o agora porque sobre o amanhã nem Deus sabe. É o eterno paradoxo de lutar pelos sonhos mas precisar desviar no caminho pela segurança. Todo mundo defende, grita, discursa sobre sempre colocar os objetivos e sonhos mais pessoais em primeiro plano, mas a coisa toda muda de visão quando a gente tá do outro lado. Opinar sempre foi fácil, o difícil mesmo é decidir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário