Vesti qualquer roupa e saí
para mais um dia de trabalho. Peguei o ônibus de sempre e pela janela olhava
além daquela vista. Olhava as pessoas, os prédios, os carros em alta velocidade
e pensava o quanto tudo em volta nada a tinha a ver comigo. Sentada na minha
mesa, eu olhava as janelas e pensava que onde estava era o último lugar que
gostaria de estar.
Você já se sentiu absolutamente deslocado a ponto de só a sua
respiração e o som da sua voz fazerem sentido? Tem dias que só isso faz sentido
pra mim. E a única solução parece ser ir embora. Desse lugar, dessas ruas,
dessa cidade, desse trabalho, dessa universidade. Tem dias que milhões de
questionamentos martelam minha cabeça mais que o normal. O que eu estou fazendo
aqui? O que estou querendo com isso? O que, afinal, eu quero ser? Isso que eu
sou? O que eu quero fazer? Aonde que eu quero ir? Que lugar eu realmente
pertenço?
Eu só quero me descobrir e descobrir o mundo. E parece que nessa
descoberta eu só consigo eliminar o que não sou. E só consigo eliminar o que
não me encaixo. O meu lugar não é onde o exibicionismo reina, o fútil impera e
o comodismo é o carro chefe da casa.
Talvez seja o dia, o humor, os acontecimentos, o valor do dólar
ou apenas ter acordado durante o ciclo do sono. Talvez seja apenas um grande
carga de trabalho e fácil irritação que surge quando vejo gente com preguiça.
Eu tenho preguiça de gente com preguiça. Eu gosto de gente que pensa e vai
atrás. Gente que não tem medo de ver no que uma ideia vai dar. Eu gosto de
gente que vive a vida. De gente que pula da piscina, que fala uma verdade no
impulso e que não tem medo de demonstrar sentimentos. Eu gosto de gente que se
liberta sem medo de perder.
Há dias que parece que o papo de ninguém é legal. Há dias que me
irrito com o jeito que as pessoas opinam sobre determinados assuntos. Há dias
que eu vejo as pessoas falando, falando, falando. E eu não entendo nada. Há
dias em que até o clima me incomoda. Há dias em que a música do meu fone não
combina com o que eu vejo enquanto caminho. E, não me leve a mal, isso
realmente não tem a ver com estar aqui, tem a ver comigo. O
"problema", realmente, sou eu.
Eu só quero descobrir - sem saber como se faz - o que realmente
sou. Eu só quero descobrir de onde eu faço parte, como se eu fosse um elemento
da tabela periódica. Os gases nobres não se reconhecem nos alcalinos, tampouco
os alcalinos nos halogênios. E o elemento errado na família errada não faz
sentido assim como não vejo sentido em certos dias. Se existisse, eu faria
parte da família dos deslocados porque, tem dias que imagino não ser nada além
disso: deslocada. Em volta, parece que nenhuma peça desse quebra-cabeças do
mundo se encaixa comigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário