sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amores líquidos

A nossa vida não se tornou nada menos que uma concentração de amores líquidos. Tão líquidos que facilmente passam por debaixo de nossas pontes e tão líquidos que nem causam ressaca e abalam os pilares dessa estrutura empedrada. 
Me parece que as relações viraram um grande cardápio que se escolhe o premiado conforme o humor ou a necessidade do dia. E, você deve sempre ser o sortudo que não deseja voltar ao restaurante no dia seguinte para repetir a dose. É estranho pensar como percebi isso do jeito menos provável possível. Mas percebi. 
Respiro fundo ao lembrar da tal experiência transcendental. Porque é só isso que explica como você se sente bem só em olhar para uma pessoa que você nem sabe se é destra ou canhota. Você não sabe se ela prefere dormir de bruços ou de costas, nem imagina se ela gosta de se vestir antes do café da manhã ou prefere o inverso, mas sente um carinho e uma coisa tão boa e inexplicável quando a observa.
Eu já sabia mas nunca tinha percebido. Eu tinha todos os indícios para perceber que agora a gente procura outro amor quando não recebe de volta. E a gente tenta sempre suprir a dor de um com o carinho de outro. A gente nem sabe se funciona, mas se joga de cabeça e bota o corpo inteiro nessa relação sem sentido algum. Ou a gente simplesmente aceita outros corpos pro tempo passar mais rápido e a vida ir seguindo o curso quase normal.
É um pouco solitário escrever sobre amores transcendentais que não foram correspondidos em uma madrugada fria que os vidros das janelas sussurram com uma rajada de vento mais forte. Pode até tocar uma música mais animada no fone de ouvido, mas aquelo infinito particular de uma relação de dez dias que não existiu tem o peso do mundo nas costas.
Mas, apesar de tudo, não existe dor, sofrimento ou desejo de voltar atrás. Não existe arrependimento, nem expectativas frustradas. Existe só o pensamento em mais alguma coisa que poderia tanto ter sido quanto não foi. E não é. E não importa. 
Os textos nas redes sociais vão dizer que isso é só mais um jeito de aprender sobre a vida. Os sábios poetas falam disso nos livros como um sentimento imensurável. Eu sempre fui um misto disso até perceber que o amor é mais que tudo e qualquer coisa, e ainda sim que não é tudo e nem único. Ele tem quatro letras, poucos significados e infinitas situações e, às vezes, é só preciso ser o que se deseja ter. 

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