segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Você já ouviu falar de responsabilidade afetiva?


Muita gente talvez nunca tenha ouvido falar, mas o filósofo polonês Bauman escreveu e desenvolveu uma teoria sobre a modernidade líquida, onde nada foi feito para durar muito. E isso não se aplica exclusivamente para bens materiais e de consumo, ele se referia mesmo às relações humanas. O líquido tem a ver com fluidez. Nada é feito pra durar e tudo é facilmente adaptável.

Dentro de todas as teorias desenvolvidas por Bauman, acabou surgindo o termo responsabilidade afetiva. Uma coisa que sempre existiu, e com os amores líquidos foi ficando pra trás. A pós-modernidade surgiu assim: as relações são rápidas, quase superficiais, ninguém se conhece ou se entende direito, e ai de quem não passar livre de se apegar a alguém no meio disso tudo. Todo mundo parece que só se preocupa com si, mas no fim das contas ninguém tem respeito e responsabilidade. Nem com os outros e nem com si mesmo.

Duas pessoas se encontram. Começam a conversar e se conhecer. Envolvem-se romanticamente. Dividem momentos. Trocam mensagens. Intensificam sentimentos.  Ficam ligadas entre si. Mas chega um momento que uma delas para tudo e fala “ah, pera, isso tá indo para um caminho que eu não quero e não to preparado”. Até aí tudo bem. O problema mesmo é: desde quando a pessoa que quer desacelerar sabe que não está preparada? Ela sempre soube? Ela desenvolveu, criou laços e se relacionou com outra pessoa sabendo o tempo todo que não queria levar aquilo tão adiante assim? Porque se ela sempre soube, e não deixou claro desde o início, isso é um belo e prático exemplo de irresponsabilidade afetiva.

Todo mundo tem seus medos, problemas, sensibilidades e fragilidades. Todo mundo tem sua confusão mental. Não tem problema você não estar pronto pra se envolver. Não tem problema você não saber o que realmente quer. O problema é você não deixar claro seus objetivos e intenções com a pessoa que você está se envolvendo. Tudo que você faz, fala, cria e vive com essa pessoa também envolve ela, também diz respeito ao que ela sente e pensa. E às vezes essa outra pessoa não tem nem a chance de sair disso, porque pra ela estava tudo bem.

As relações são complicadas, principalmente, porque o ser humano complica. As pessoas não tem a responsabilidade de arcar com suas vontades e atitudes, e não tem coragem de falar e dizer a verdade. Independente dessa verdade ser boa ou ruim. Ninguém lê mentes, muito menos fica o tempo todo analisando e esperando sinais. Se você quer se afastar, a pessoa não vai adivinhar isso. Se você quer chamar a pessoa pra sair, e não falar isso, ela também nunca vai saber. É importante levar as suas vontades a sério. Nem sempre o que você quer, é o que a pessoa vai ter pra te oferecer. E tudo bem. O importante é a pessoa deixar claro o que ela pode ou não oferecer. E mais importante ainda é você decidir se pode ficar ali.

Quando você não é sincero com si, e com o outro, acaba prejudicando os dois. Quando você entra em uma relação sabendo que não é aquilo que quer, mas mesmo assim continua, insiste, desenvolve, isso deixa de ser só sobre você, e passa a ser dos dois. Quando você faz alguém acreditar que tá tudo bem, você aos poucos vai quebrando as barreiras e as inseguranças daquela pessoa. E depois, quando quiser acabar, não é só ir embora. Tem alguém ali. Tem alguém ali que se envolveu e provavelmente vai construir muros ainda maiores em volta de si, porque achava que era seguro abaixar a guarda.

Assim se constroem as relações hoje em dia. Pessoas se conhecem o tempo todo. Pessoas que são sinceras, pessoas que não são. Pessoas que tem medo de se envolver com outras e criaram barreiras enormes porque sofreram em relações que o outro não teve um pingo de responsabilidade afetiva. Pessoas que tem medo de colocar seus sentimentos na mesa porque em algum momento viram eles serem quebrados bem diante dos seus olhos. Pessoas que perdem de conhecer outras verdadeiramente porque tem medo de se machucar de novo. Pessoas que tem insegurança sobre si. Pessoas que nem sempre estão dispostas a se levar a sério e levar o outro a sério. Pessoas que não sabem o que querem, e mesmo assim insistem em fingir que tá tudo bem até onde isso é confortável para o ego dela, porque isso vai doer no outro.

A irresponsabilidade afetiva acontece o tempo todo e muito mais do que a gente imagina. Ela, inclusive, acontece com nós mesmos. Porque às vezes nem a gente se entende e respeita os nossos sentimentos. Então seja sincero. Com você, com seus sentimentos, e com as pessoas que você se relaciona – romanticamente ou não. Tá tudo bem se apaixonar. Tá tudo bem ser sincero. Tá tudo bem deixar claro o que você quer ou não. Tá tudo bem falar a verdade, por mais que ela possa machucar. Só que não tá tudo bem agir de má fé com o sentimento dos outros. Não tá tudo bem fingir uma coisa que não é. Não tá tudo bem seguir com uma coisa só pra se distrair. As pessoas não são distrações. As pessoas são pessoas!

Não existe nada mais confortável do que colocar sua cabeça no travesseiro pra dormir com a consciência de que você foi sincero e fez o que pôde, tanto pelos seus sentimentos quanto pelos sentimentos do outro.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A vida é feita de ciclos

A vida é um ciclo contínuo de chegadas e partidas.
De pessoas, momentos, fases, situações.
Um ciclo contínuo de chegar e ir embora.
Conhecer e desconhecer.
Organizar e desorganizar.
Sensatez e insensatez.

A vida é um ciclo contínuo de amores.
Sinônimos e antônimos.
Sínteses e antíteses.
Poemas e poesias.
Casos e acasos.

A vida é um ciclo contínuo de encontro de almas.
Rasas e profundas.
Coerentes e incoerentes.
Singulares e peculiares.
Por um breve momento ou para sempre.

A vida é a arte do encontro, disse Vinícius de Moraes.
Encontros de desconhecidos, encontros de conhecidos há muito tempo.
Encontros de pele e de alma.
Encontros de mente e coração.
E embora haja sempre o encontro, às vezes a gente desconhece os motivos que levam até ele.
Às vezes encontros que cujo único objetivo é nós reencontrarmos.
Às vezes encontros com quase espelhos, pra que neles a gente possa se enxergar.
Encontros imprevistos por nós, mas agendados pela vida.
Encontros de lições.
Encontro de amores.
Encontros de toques, de cheiros, de olhares.
Encontros de peças.
Encontros de encaixe.
Encontros de perigo, às vezes até de segurança.
Encontros planejados.
Encontros ao acaso.
Encontros efêmeros.
Encontros perenes.
Encontros, simplesmente.
Encontros intensos.
Encontros datados.
Encontros, talvez, predestinados.
E partidas.

Dói mais pra quem vai ou quem fica?

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Ser adulto é o chefão do vídeo game da vida

Ilustração: Carine Brancowitz

Quando eu era criança desejava com todas as forças que pudesse logo crescer. Parecia legal ser adulto, dono do próprio nariz, dirigir, ir aonde quiser, ter seu próprio dinheiro. Aos poucos a gente aprende que tudo, na verdade, é uma questão de querer o depois. A gente tá sempre querendo o depois pra não lidar com as situações.
Ser adulto é muito mais complexo que simplesmente poder morar sozinho ou ir pra balada no meio da semana. Ser adulto não é só assistir o Jornal Nacional porque vai passar uma matéria bonitinha. Ser adulto é ler tudo sobre tudo pra não se sentir em outro mundo. E, às vezes, parece ser melhor viver em outro mundo do que encarar a realidade desse lado aqui. Ser adulto exige responsabilidades que a gente acha que só chegam lá na casa dos 40. Mas, antes de ser adulto, é preciso escolher. E na vida tudo é, definitivamente, uma questão disso. A gente precisa escolher com 17 anos o que deseja fazer praticamente pro resto da vida. E aí tem que passar por todo aquele processo psicológico e até trauma emocional de vestibular. Não satisfeitos, precisamos encarar o emprego e as escolhas. O disco vira quando a gente volta a debater sobre o sonho x estabilidade. A coisa fica mais difícil quando chegar uma conta pra pagar no final do mês. E o sonho acaba ficando mais longe dependendo das pedras que a gente decide - e não decide - carregar ao longo da vida.
Aqui, com 20 anos, eu preciso decidir entre um estágio num lugar que sempre quis trabalhar e um contrato com aumento na empresa que já estou. Eu preciso decidir se dá pra abrir mão do dinheiro pra comer em um lugar legal e a grana que sobra para os planos futuros. Eu preciso pensar no que quero pro futuro e em como eu ajudo no fim do mês pra pagar a mensalidade da faculdade. Eu preciso decidir, em menos de 24 horas, coisas que só imaginava precisar lidar lá pelos 30.
E então eu percebi que ser adulto é relativo e nem é tão legal assim. Percebi que a coisa ia ser fácil mesmo se as dúvidas continuassem apenas na sexta-feira da creche, quando precisava escolher o que levar de brinquedo no dia do brinquedo. Isso porque eu ainda tinha o luxo de escolher, tinha opções a minha volta, tinha possibilidades. Hoje, as possibilidades ficam mais restritas e ainda é preciso agradecer porque elas existem, porque temos escolha, porque temos opção. 
Com um pouco de sofrimento, eu tomei uma decisão, porque o mundo de adultos é feito disso: decisões. Tem que decidir se é mais prudente gastar o dinheiro indo pintar o cabelo no salão ou em uma festa legal. Tem que decidir se é melhor economizar pro futuro porque vivemos tempo de crises ou se tem que meter o louco e viver o agora porque sobre o amanhã nem Deus sabe. É o eterno paradoxo de lutar pelos sonhos mas precisar desviar no caminho pela segurança. Todo mundo defende, grita, discursa sobre sempre colocar os objetivos e sonhos mais pessoais em primeiro plano, mas a coisa toda muda de visão quando a gente tá do outro lado. Opinar sempre foi fácil, o difícil mesmo é decidir. 

domingo, 18 de setembro de 2016

Amor é amor

Sara Herranz
Até hoje nunca soube ao certo se amei como se ama nos livros ou nos filmes de romance. Mas uma coisa eu aprendi: amor é amor, aqui ou na China. 
Teve o cara que eu nunca conversei de verdade e também nunca esqueci. Ele até mora aqui mas não nasceu. Eu nem sei como descobri ele, mas na minha cabeça a gente teria sido um casal feliz, daquele de foto do tumblr que vive a vida de boa e é isso aí. Não sei como é a voz dele. Encontrei ele na rua umas cinco vezes e nunca tive coragem o bastante pra ir dar um alô. Já vi ele namorar, terminar, namorar de novo e tudo que eu faço é favoritar alguma coisa que ele fala de vez em quando.
Depois teve o meu amor de faculdade. Eu me apaixonei por um cara que tava tocando Beirut no ukulele enquanto todo mundo matava aula no hall da faed. Lembrei dele agora, enquanto essa insonia não passa. Quando eu pensei "com esse vai" ele teve que voltar pro Rio Grande do Sul e tudo que a gente teve foram "ois" pelos corredores, esbarrões propositais e sorrisinhos envergonhados. Ele tinha olhos quase verdes, tão intensos que quando a gente se demorava a observar parecia que ia ser engolido por aquela calmaria. 
Depois deles, foram amores de uma ou duas semanas. Ou porque eu cansava antes mesmo de tentar ou porque no meio do caminho havia uma pedra e a gente se perdia. Teve o desenhista, o cara do rap, o amigo infiel, o skatista, o fantasiado, o marrento. Eu lembro os nomes mas gosto mesmo é de recordar pelas características. Todos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes. Nesse meio tempo tiveram os amores de mil olhares e nenhuma palavra. Os amores fantasiados de conhecidos na rotina e os amores disfarçados de amigos. 
O grande problema de todos eles foi eu conhecer antes de deixar que eles se apresentassem. Por algumas horas ou dias, eu já tinha decifrado como eram e o que faziam antes até que eles mesmo pudessem pensar em como me tratariam. E então eu desistia por achar que não tinha mais nada de novo pra acrescentar. Falando desse jeito, parece superficial, mas é que eu nunca fui das mais pacientes e a curiosidade matou mesmo o gato. No caso, todos os gatos. 
Tiveram outros amores. Alguns que duraram muito e outros que sequer chegaram a durar alguma coisa. Eu lembro especificamente de alguns porque amei muito. E, para cada um de nós, o amor tem um significado diferente. Eu enxergo no amor um gostar, admirar e querer bem. E o amor não tem tempo, ele pode mesmo durar alguns dias ou uma vida inteira. Ele pode ser carregado de palavras ou carregado de olhares. O que importa é o que a gente sente e como a gente se sente. E em todos, absolutamente, eu amei. Até os que nunca souberam que eu existo, porque no fim das contas ele me ensinaram uma coisa: eu preciso me amar primeiro, e no tempo certo, o amor que tem vai rebater em alguém que vai voltar.


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"O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os dentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O amor pode ser provocado quando cair um punhadinho de pó-de-me-ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem porção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberagens com garantia e tudo".
Eduardo Galeano

domingo, 4 de setembro de 2016

É que o meu lugar não é aqui


Vesti qualquer roupa e saí para mais um dia de trabalho. Peguei o ônibus de sempre e pela janela olhava além daquela vista. Olhava as pessoas, os prédios, os carros em alta velocidade e pensava o quanto tudo em volta nada a tinha a ver comigo. Sentada na minha mesa, eu olhava as janelas e pensava que onde estava era o último lugar que gostaria de estar. 
Você já se sentiu absolutamente deslocado a ponto de só a sua respiração e o som da sua voz fazerem sentido? Tem dias que só isso faz sentido pra mim. E a única solução parece ser ir embora. Desse lugar, dessas ruas, dessa cidade, desse trabalho, dessa universidade. Tem dias que milhões de questionamentos martelam minha cabeça mais que o normal. O que eu estou fazendo aqui? O que estou querendo com isso? O que, afinal, eu quero ser? Isso que eu sou? O que eu quero fazer? Aonde que eu quero ir? Que lugar eu realmente pertenço?
Eu só quero me descobrir e descobrir o mundo. E parece que nessa descoberta eu só consigo eliminar o que não sou. E só consigo eliminar o que não me encaixo. O meu lugar não é onde o exibicionismo reina, o fútil impera e o comodismo é o carro chefe da casa. 
Talvez seja o dia, o humor, os acontecimentos, o valor do dólar ou apenas ter acordado durante o ciclo do sono. Talvez seja apenas um grande carga de trabalho e fácil irritação que surge quando vejo gente com preguiça. Eu tenho preguiça de gente com preguiça. Eu gosto de gente que pensa e vai atrás. Gente que não tem medo de ver no que uma ideia vai dar. Eu gosto de gente que vive a vida. De gente que pula da piscina, que fala uma verdade no impulso e que não tem medo de demonstrar sentimentos. Eu gosto de gente que se liberta sem medo de perder. 
Há dias que parece que o papo de ninguém é legal. Há dias que me irrito com o jeito que as pessoas opinam sobre determinados assuntos. Há dias que eu vejo as pessoas falando, falando, falando. E eu não entendo nada. Há dias em que até o clima me incomoda. Há dias em que a música do meu fone não combina com o que eu vejo enquanto caminho. E, não me leve a mal, isso realmente não tem a ver com estar aqui, tem a ver comigo. O "problema", realmente, sou eu. 
Eu só quero descobrir - sem saber como se faz - o que realmente sou. Eu só quero descobrir de onde eu faço parte, como se eu fosse um elemento da tabela periódica. Os gases nobres não se reconhecem nos alcalinos, tampouco os alcalinos nos halogênios. E o elemento errado na família errada não faz sentido assim como não vejo sentido em certos dias. Se existisse, eu faria parte da família dos deslocados porque, tem dias que imagino não ser nada além disso: deslocada. Em volta, parece que nenhuma peça desse quebra-cabeças do mundo se encaixa comigo.


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Talvez a gente não tenha nascido pra dar certo

Parece inacreditável mas na verdade é bem simples: talvez a gente só não tenha nascido pra dar certo. Talvez a gente só não tenha nascido pra andar de mãos dadas pelas ruas e se olhar com cumplicidade quando toca alguma música que fala mais do que a letra quer dizer. Talvez a gente tenha nascido pra ser só a lembrança engraçada na vida um do outro. Talvez a gente não tenha se encontrado nos melhores momentos ou talvez você seja uma pessoa difícil demais. Talvez eu que seja uma pessoa com um coração tão grande que quer abraçar todo mundo. Talvez seja seu olhar sereno e seu jeito malandro. Talvez seja só minha vontade de provar que eu consigo. Talvez seja até o seu desinteresse ou o meu interesse maior. Simples assim. 
É estranho olhar pra alguém e querer tanta coisa sem nem saber direito como a vida funciona. É engraçado como a gente consegue criar uma intimidade dentro da nossa cabeça. Não sei você, mas eu consigo gostar sem conhecer. E é por isso que existe essa vontade louca de querer saber mais de ti. Será que a gente fala da mesma pessoa? Não importa nem como isso vai ficar depois. Não importa se isso acaba na mesa do bar, numa conversa na praia ou na cama. Eu só tenho essa vontade inexplicável de desvendar cada fronteira desse mapa curioso que é a tua vida e a tua cabeça. 
Não sei como isso acabou acontecendo, mas eu só quero saber mais sobre ti do que o beijo rápido que aconteceu. Eu quero saber se você é destro ou canhoto. Se você gosta de dormir de costas ou barriga pra baixo. Quando toca aquela música do DCNE na rádio você muda a estação ou aumenta o volume? Será que você seria a companhia ideal pro cinema no meio da semana ou a parceria completa pra um show do Costa Gold num sábado de verão?
Eu queria te desvendar pra me entender, porque é como se eu não me entendesse sem saber o que se passa dentro de toda essa quase situação. E queria saber se algum dia a gente vai ser mais que simplesmente duas pessoas aleatórias com amigos em comum que só se trombou em um rolê muito louco e cada um foi pro seu canto. Eu não tô querendo que a gente divida um canto porque apesar de tudo isso eu nem te conheço. Mas, quem sabe, a gente pode dividir mais que uma lembrança engraçada de um sábado de carnaval. 

domingo, 31 de julho de 2016

Falta tempo

Foi-se a época que a gente podia se dar ao luxo de demorar nas tarefas. Por mais clichê que seja, hoje em dia a vida passa e a gente nem vê. Não vê porque tá cheio de coisa pra fazer. Não vê porque tecnicamente existe coisa - de novo - mais importante. 
Falta tempo para apreciar o céu azul num dia de sol, o mar calmo em um final de domingo, o cheiro do café que acabou de ser passado. Falta tempo pra reparar nas ruas da cidade, nas pessoas apressadas andando a nossa volta, nos novos e velhos lugares. Falta tempo pra apreciar os mínimos detalhes e se perder de um jeito bom na delicadeza de algumas satisfações. Falta tempo pra comer devagar e sentir o gosto da comida caseira. Falta tempo até pra poder almoçar verdadeiramente comida. 
Parece cada vez mais nítido que a gente corre contra o tempo pra poder aproveitar tudo. E é nessa necessidade desenfreada de correr atrás dos objetivos que a gente mais perde do que ganha. A gente perde de prestar atenção no 'insignificante' que pode fazer diferença. A gente perde de guardar detalhes, cheiros, sons e sensações. 
Talvez seja necessário - e quando digo isso acredito piamente - perder alguns minutos das vinte e quatro horas do dia pra prestar mais atenção no que acontece em volta. Desde as cores do céu a toda vitrine de salgados da padaria. Das pessoas que estão dentro do ônibus às que andam na rua enquanto ele não chega no destino final. Dos encontros com amigos às reuniões com os desconhecidos. Nas pessoas que vemos todo dia mas não prestamos atenção. É tipo aquela história que falam sobre prestar atenção. Você vê! Mas será que realmente enxerga? Você ouve! Mas será que realmente escuta? 
Estamos tão absortos nas nossas vidas e rotinas que esquecemos do resto e ficamos concentrados em resolver as questões que precisamos. Não sei você, mas eu nunca realmente estou pendente com tudo, e cada final de semana tranquilo só serve pra pensar na loucura que será a próxima semana. Não é nem uma questão de abandonar o que se faz, é só um tipo de intervalo entre as tarefas. Prestar atenção na hora de sair para o almoço. Observar no caminho de ida ou volta pra casa. Ver além do que realmente acontece enquanto a gente caminha apressado pra realizar mais alguma exigência que sociedade cobra.